PORTELA HOMENAGEIA VIEIRA DE MELLO E SE EMOCIONA EM ENSAIO (Globo online - 12/2004)
Treino é treino, jogo é jogo. Mas alguns treinos têm momentos tão ou mais emocionantes que muitas decisões. O ensaio técnico da Portela, na noite deste sábado, no Sambódromo, deu aos sambistas e ao público dois momentos desses, quase únicos. O primeiro: ver dona Gilda, mãe do diplomata Sérgio Vieira de Mello, caminhando em frente à bandeira com o desenho do rosto do filho - morto num atentado em Bagdá. Saudada por todos, ela estava acompanhada pela companheira de Sérgio, Carolina. A bandeira será enviada à ONU.
O segundo momento: ver, ao fim do ensaio, Mestre Marçalzinho profundamente tocado. Sem conseguir falar, com a cabeça baixa e a mão nos olhos, ele chorou. Foi cercado pelo abraço de amigos. Era como se ele não acreditasse que estava ali mesmo. O rosto grave e atento, e os gestos severos, ao longo de todo o ensaio, tinham se desmanchado.
- Não tem explicação. É uma coisa muito importante para mim. E não sei, não mesmo, se estou à altura dessa posição. Pensar que estou hoje aqui, em um lugar em que meu pai já esteve.
Um ritmista, cuíca na mão, bem mais velho que Marçalzinho, o abraçou e disse:
- Há anos a bateria da Portela não passa como passou hoje. O seu pai deve estar orgulhoso de você.
No ensaio, a nova madrinha da bateria, Valeria Valenssa, ainda não parecia totalmente acomodada na posição. Pelo menos duas vezes ela avançou demais sobre a área onde evoluia o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Outra vez, ficou recuada demais e não percebeu que a bateria estava em movimento. Quase foi pisada, sem querer, por Marçalzinho, que estava de frente para os ritmistas e de costas para ela.
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