Majestade do Samba

PORTELA é FATO E FOCO



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Noca da PORTELA

Casa de Noca (O DIA – 01/12/04)

Veterano volta a vencer na Portela cinco anos depois e faz um hino para a boemia da Lapa.

Ele carrega a escola de samba no coração e no nome. Às vésperas de completar 73 anos (no dia 12), Noca da Portela só quer saber de comemorar: seu samba foi eleito campeão para o Carnaval 2005 da escola de Madureira e, como o enredo é a ONU (Organização das Nações Unidas), a letra vai ser traduzida para 12 idiomas. “Agora eu vou para a Barra”, brinca o compositor.

Mas no quintal de sua casa, no Engenho de Dentro, Noca deixa logo claro que nem pensa em sair de perto da Portela. “A ala da comunidade é o que pulsa forte, o pessoal de Cascadura, Madureira, Marechal Hermes, Bento Ribeiro”, confia ele, que esteve afastado da escola desde 2001. “Voltei porque a Portela mudou, agora tem um nova diretoria, com outra mentalidade. Estamos com a esperança de que a Portela volte a ser a grande escola que sempre foi”, diz ele, ao lado de Darcy Maravilha, seu parceiro no samba campeão – Nós Podemos: Oito Idéias para Mudar o Mundo –, como J. Rocha e o filho Noquinha. “Não foi um samba fácil de fazer, porque o assunto é sério, mas a gente tinha que falar de forma alegre”, pondera Darcy, no que Noca rebate: “Mas é um assunto de que nós gostamos de abordar. Eu sou um compositor politizado. Colocamos semicolcheias no samba, esse é o segredo da vitória”.

Mas Noca também acha que a vitória no Carnaval tem outros segredos. “O cara tem que ter amor pela bandeira. Não adianta colocar dez mil no Sambódromo que nem sabem cantar o samba”, defende ele, com o furor de quem acredita que samba é coisa de família – o neto mais velho, Diogo Vilela, está começando cantar; ele tem uma neta porta-bandeira e os três menores, todos de 10 anos, vão desfilar na ala da crianças. “Escola de samba é a segunda família de todo sambista”, diz Noca. “Muita gente largou mulher por causa da Portela. Samba é religião”, emenda Darcy, dando deixa para Noca: “Sambista bem-sucedido continua na macumba. Sambista mal-sucedido vira evangélico”.

O negócio é tão de família que, na sessão de fotos, distraídos cantando o samba que estão compondo com Rico Dorileu para ser o hino da Lapa – eles pretendem vai gravar e distribuir nas casas de lá, para ser tocado nos intervalos dos shows – , Noca e Darcy nem se preocupam com o varal cheio roupas a secar. E no que alguém se oferece para arrumar o espaço, eles respondem: “Casa de sambista tem que ter cenário e não precisa arrumar não, nosso samba é limpeza”.

PORTELA guerreira

NOME

Casa de Noca no Nordeste é eufemismo para lugar de prostituição. Mas com Noca a história é diferente: é o nome do show em que ele é o anfitrião e que vinha sendo apresentado toda sexta na Lapa. “Mas em janeiro começam os ensaios e eu tenho compromisso com a escola. Pretendo mudar para o sábado e fazer shows só com os sambas-enredo da Portela e os de terreiro. Quero reviver desde o primeiro”, diz.

MUNDO

As metas da ONU são um enredo excelente na opinião do sambista. “É uma mensagem importante que a Portela vai passar. Essa garota de hoje gosta muito de arma”, lamenta o veterano.

NOVA PORTELA

Com a mudança na diretoria da escola, Noca acredita que todas as escolas podem comemorar. “É a volta da Portela guerreira. E todo mundo é meio Portela, principalmente nessas escolas mais novas, como Grande Rio e Mocidade. Nas últimas pesquisas que fizeram, eram 30 milhões os torcedores”, contabiliza.

LAPA, CAPITAL DO SAMBA

Aonde o samba bombeia o samba que corre nas veias? É na Lapa / Aonde a alegria vadeia em noite de lua cheia? É na Lapa / Aonde o bamba bambeia num samba do mestre Candeia? É na Lapa / Aonde o dia ponteia a a poesia passeia? É na Lapa / A Lapa volta a ser a Lapa da orgia, da malandragem que trocava a noite pelo dia / Na Lapa a juventude impera lembrando o bom samba de Wilson, Cartola e Noel / Desembaraçando o pé com sua mina de fé / No choro chorado, pedacinho do céu / Waldir Azevedo, Jacob, Pixinguinha, a saudade que ficou / Lapa, capital do amor.

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