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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PORTELA

Portela faz parceria com ONU e leva as Metas do Milênio para a Sapucaí (O Globo - 01/05)


Nos barracões e quadras espalhados pelo Rio sobram provas de que o casamento do setor privado com o carnaval dá samba. Algumas das mais importantes empresas do país — como Vale, Varig, TAM, grupo J. Pessoa, Petrobrás, Eletrobrás, Furnas e Nestlé — já selaram parcerias com escolas do Grupo Especial. Neste 2005, a Marquês de Sapucaí verá a união de um símbolo da tradição momesca e o politicamente correto: a Portela apresentará as Metas de Desenvolvimento do Milênio, da Organização das Nações Unidas (ONU).

A idéia de usar o Sambódromo como veículo para popularizar as Metas do Milênio foi da mineira Marielza Oliveira, funcionária do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e foi encampada por Carlos Lopes, principal autoridade da ONU no Brasil. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, se comprometeu a doar à Portela as bandeiras dos 191 países-membros, comprometidos com as oito metas. Elas vão atravessar a Sapucaí nas mãos de crianças.

- Não temos dúvida de que o carnaval carioca e a Portela terão um apelo muito forte para divulgar os objetivos de desenvolvimento, já que o desfile é transmitido em todo o mundo. E a parceria com a comunidade vai continuar após quarta-feira de cinzas — anuncia Lopes.

O representante da ONU se refere ao plano de desenvolvimento humano que será implementado nos bairros de Oswaldo Cruz, Madureira e adjacências, tornando a área uma experiência de sucesso no cumprimento das metas do milênio. Diretor Cultural da Portela, Carlos Monte, um ex-consultor do Pnud, deu forma ao programa que pretende melhorar as condições de vida na região.

— É um projeto de dez anos que envolve as áreas de educação, saúde, trabalho e renda e meio ambiente — diz o portelense histórico.

O flerte entre a ONU e a Portela começou em 2003, quando a escola ainda estava sob o comando do banqueiro de bicho Carlinhos Maracanã. Eleito no segundo semestre do ano passado, o presidente Nilo Figueiredo decidiu manter o enredo:

- Para ser sincero, eu nunca tinha ouvido falar em metas do milênio. Ninguém tinha noção de como fazer este enredo, mas resolvemos aceitar o desafio.

Em agosto de 2004, Figueiredo soube que a ONU não poderia patrocinar a escola, mas se indicaria empresas que poderiam bancar a empreitada.

- Recebemos uma lista com cerca de cem empresas. Nenhuma se interessou. O enredo foi excelente para recuperar a auto-estima da escola. Até o presidente Lula visitou a quadra da Portela, fato que jamais tinha acontecido. Como presidente da escola, fico orgulhoso da parceria, mas como cidadão estou decepcionado com a falta de apoio a uma idéia tão importante — desabafa.

A Portela contratou os carnavalescos Amarildo de Mello e Nelson Ricardo para conceber um desfile em condições de disputar o título. O gasto está estimado em pouco mais de R$4 milhões, mas a escola só recebeu R$1,980 milhão da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), da Prefeitura do Rio e dos direitos de transmissão do desfile. Além disso, conseguiu patrocínio de R$200 mil do Grupo Libra, de navegação, e de R$145 mil da ONG Conservação Internacional e espera a um possível patrocínio de R$500 mil da Caixa Econômica.

O enredo pôs a Portela na moda novamente. Os ensaios estão lotando nas quartas e sextas-feiras e autoridades da República já passaram por lá, como o presidente da Câmara, João Paulo Cunha e dos mi Gilberto Gil e Celso Amorim.

Na avenida, o enredo será dividido em oito setores. O primeiro vai identificar as mazelas do planeta. Em seguida, a primeira das metas do milênio: o combate à fome e à extrema pobreza. O terceiro setor vai tratar da educação; o quarto, da redução da mortalidade infantil e materna, da igualdade entre os sexos. No quinto setor estará o combate às endemias, no sexto, o meio ambiente e, no sétimo, a união dos povos pelo desenvolvimento, a oitava meta. Em algum momento do desfile, haverá uma homenagem a Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU que morreu num atentado terrorista em Bagdá, no Iraque. A mãe e a viúva do diplomata vão desfilar.

— O enredo não é simples, mas é muito íntimo, faz parte da vida das pessoas. Nossa idéia é fazer a denúncia, expor os problemas e mostrar as soluções. Por fim, vamos mostrar a utopia, uma visão do mundo com as metas do milênio cumpridas — resume o carnavalesco.

Mais ONU, impossível.

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