DODÔ DA PORTELA COMPLETA 90 ANOS E PODE ENTRAR PARA O LIVRO DOS RECORDES (O DIA – 06/01/10)
Maior símbolo portelense em atividade, ex-porta-bandeira recebe homenagem de sambistas e revela o segredo da longevidade.
Sempre que alguém pensa na gloriosa história da Portela, os primeiros nomes que surgem na mente são os de Paulo da Portela, Monarco e Paulinho da Viola. Quando se fala da ala feminina, os corações se enchem de saudade para reverenciar o canto de Clara Nunes e o feijão de Tia Vicentina. No entanto, muito antes de diversas figuras importantes como essas chegarem a Oswaldo Cruz, Maria das Dores Rodrigues já estava lá.
Dodô, como ficou conhecida, se tornou porta-bandeira da azul-e-branco através das mãos de Paulo da Portela em 1935, e agora, aos 90 anos de idade, pode entrar para o Livro dos Recordes.
Da esquerda para a direita Squel, Rute, Dodô, Alessandra e Lucinha Nobre
Homenagem e almoço para celebrar os 90 anos
Para homenagear Dodô em seu aniversário, que ocorreu no último domingo, amigos e seis porta-bandeiras do Grupo Especial fizeram questão de ir até sua casa, no alto do Morro da Providência, no Centro. Ao chegarem de surpresa, bambas como Manoel Dionísio, Carlinhos Brilhante, Odaléa Rosa Negra, Selminha Sorriso (Beija-Flor), Lucinha Nobre (Portela), Alessandra (Porto da Pedra), Rute (Vila Isabel), Squel (Grande Rio) e Verônica (Imperatriz) se preparavam para cantar o 'Parabéns' quando receberam o aviso de uma pessoa mais íntima da aniversariante: 'Ela não gosta de 'Parabéns'.
Ao aparecer na sala, após longa preparação, Dodô usava um vestido azul e sorriu ao ver os convidados. 'Não gosto de surpresa. Eu odeio surpresas', brincou. Dodô também não quis bolo de aniversário e nem vela. Ofereceu então um almoço caprichado, um angu à baiana. Para a eterna porta-bandeira, foi apenas mais um dia festivo. Para os convidados, foi a oportunidade de dar as flores em vida para uma das maiores personalidades da história do samba e do Carnaval. Que venha o centenário.
Leia entrevista exclusiva com Dodô da Portela:
O Dia na Folia: Ao completar 90 anos, a senhora se sente uma pessoa realizada?
Dodô: Nem Deus pode falar que é uma pessoa realizada. Sempre aparece alguma coisa que a gente tem vontade de fazer.
Qual foi o momento mais importante e especial em sua trajetória?
Tive a maior felicidade da minha vida quando fui madrinha de bateria da Portela em 2004. Isso virou notícia no mundo inteiro e muita gente veio falar comigo. Se pudesse, eu até queria continuar no posto, mas não quiseram.
O Carnaval rendeu dinheiro à senhora?
Nunca levei dinheiro com o samba. A gente mesmo fazia a nossa roupa e não ganhava nada. A coisa só mudou quando ganhei a minha loja na quadra através do Carlinhos Maracanã (ex-presidente) porque aí pude vender minhas camisas e ganhar um dinheirinho. Vivo mesmo com a minha pensão.
A senhora mora no Morro da Providência. Não sente dificuldade para se locomover e ir aos ensaios em Madureira?
Adoro o meu morro e não saio por nada. Fui criada aqui. Nunca pedi nada a ninguém e sou feliz. Sou favela mesmo, mas faço questão de me vestir bem.
Alguma das porta-bandeiras em atividade chama sua atenção?
A Selminha (Sorriso, da Beija-Flor) é rainha de todas elas. Ela é perfeita e não fica nas costas do presidente. Tem casa, tem filho e só quer saber de trabalhar. Gosto muito dela.
Qual a sua opinião sobre os casais de mestre-sala e porta-bandeira que têm coreógrafos e buscam novidades?
Se é samba, não pode ter balé e nem inventar muito. Sou contra.
Qual é o segredo para se chegar bem aos 90 anos?
Vivo bem porque sou a Dodô da Portela. O segredo é trabalhar. Como tudo o que tenho vontade, não bebo e não fumo. Meu negócio é samba e não quero saber de mais nada.
Tem medo da morte?
Não tenho medo nenhum. Já estou preparada para isso. Mas não fico pensando na morte. Quem sabe eu não chego aos 100 anos?