Vilma e Delegado
Nos últimos dias, surgiu a possibilidade de a Tradição homenagear Vilma Nascimento em seu enredo. A escola já até avisou que o enredo não vai rolar, mas fiquei com água na boca. Seria lindo homenagear Vilma. Uma história de amor ao samba, com componentes fundamentais para qualquer folhetim que se preze: amor, ódio, brigas, paixão, idas-e-vindas, reconciliações... Acima de tudo, uma trajetória de glórias, que coroou a vida da maior porta-bandeira que o carnaval carioca já viu.
Algumas
de minhas maiores emoções no carnaval tive com Vilma Nascimento. Numa noite de
quinta-feira perdida no passado, na quadra da Beija-Flor, as lágrimas quase
caíram ao vê-la dançar com Delegado (foto), Selminha e Claudinho - e, rodeando
os quatro, as crianças que se formavam na escolinha da azul-e-branco. Presente
e passado juntos numa mesma dança. Às vezes Wilma dançava com Delegado, em
outros momentos era cortejada por Claudinho, numa troca de passos linda, à
altura da categoria dos quatro dançarinos, que marcaram época na história do
nosso carnaval.
Por
diversas vezes, vi Vilma na quadra da Tradição, coordenando os mestres-salas e
as porta-bandeiras mirins da escola, num trabalho de puro amor ao samba. Em
outras ocasiões, era lindo vê-la entrando majestosa, abrindo o desfile da
Tradição, como destaque de chão, o Cisne da Passarela. Mas a mágoa com a Portela
aparecia sempre. Em cada papo meu com ela, ressurgia essa história mal resolvida
com a águia de Madureira. Parecia sem volta.
Mas
nada como um carnaval após o outro - com um ano inteiro no meio. Em 21 de
dezembro de 2006, anunciei em primeira mão em minha coluna no EXTRA que
Vilma estava de volta à Portela: ela apresentaria o casal de mestre-sala e
porta-bandeira na Avenida. É daquelas notícias que a gente dá de coração
apertado, meio desconfiado: e se ela desistir?, e se voltar atrás? Confiei no
meu feeling e cravei a volta da rainha.
E, em fevereiro, meu coração bateu mais forte de novo.
Logo após a comissão de frente portelense, vinham o casal da escola e Vilma
Nascimento. Linda, elegante, apresentando os responsáveis pelo pavilhão
portelense. Mais lágrimas, fazer o quê? A menina Alessandra, aliás, pareceu ter
aproveitado aquela energia e não sentiu o peso da estreia. Arrebentou, ganhou
prêmios, fez bonito na Avenida, virando promessa de grande porta-bandeira.
Na
Tradição, Vilma não vem mais como destaque. Agora, só sai com camisa de
diretoria, ao lado da filha, Daniele. Ela diz que quer brincar o carnaval,
aproveitar, sem grandes responsabilidades. Se perdemos a visão de Wilma de um
lado, ganhamos do outro - e espero que ela continue por muito tempo brilhando
ao lado do casal portelense. E na Tradição, quem sabe um dia ela volta a sua
posição de destaque, mas como enredo da escola? História não lhe falta.
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