CRISTINA BUARQUE ATUA EM
SEU PAPEL PRINCIPAL (O GLOBO - 11/09/2007 )
Sambista grava, com Terreiro Grande, inéditas de Candeia, Chico Santana e Manacéa.
Sambista grava, com Terreiro Grande, inéditas de Candeia, Chico Santana e Manacéa.
Cristina Buarque e Terreiro Grande
No momento em que o samba voltou a ocupar seu merecido espaço de matriz principal da música brasileira, com a Lapa revitalizada, com a juventude interessada em sua história e até com uma sucessão de cantoras se dedicando ao gênero, o registro ao vivo do encontro entre Cristina Buarque e o grupo Terreiro Grande merece destaque até como um contraponto.
Cantora de voz contida, de timbre diferente, Cristina tem seu papel fundamental e único dentro do universo musical brasileiro pelo fato de ser uma das maiores conhecedoras do samba, dos sambistas e, principalmente, da sua Portela.
Seu papel de pesquisadora informal é visceral e ímpar, simplesmente porque desde muito antes desse encantamento atual pelo samba ela já se mandava para o subúrbio carioca, para a casa de Manacéia e Dona Neném, em Oswaldo Cruz; para a casa de Chico Santana; Alberto Lonato; os grandes da azul-e-branco, com gravador em punho. Se hoje muitos sambas são gravados, lá pelo fim dos anos 1960 e início dos 70 isso não acontecia. Pelo contrário, os sambas iam embora com a memória dos compositores.
E dessa paixão surgiu seu acervo em fitas cassetes maltratadas pelo tempo, objetos de cobiça da turma do samba de hoje. Não à toa Cristina, com seu jeito tranqüilo e boa-praça, é tão reverenciada.
Encontro atualiza sambas de terreiro antigos
O encontro com os paulistas do Terreiro Grande, que cultuam o samba carioca tradicional, é ótimo como uma atualização de um repertório, esquecido em favor de sambas mais urbanos, e de uma sonoridade mais crua e rara nos dias de hoje.
Cristina já tinha ouvido falar nos sambistas quando teve a oportunidade de ir até São Paulo conhecê-los, em uma homenagem ao portelense Alvaiade, que morreu em 1981. Ficou encantada com o que viu e ouvir, e resolveram fazer show e disco. Por opção, não foram gravadas faixas individuais, mas sim blocos de sambas, como numa roda à vera.
No repertório, sambas históricos como “O meu nome já caiu no esquecimento”, de Paulo da Portela, “Você me abandonou”, de Alberto Lonato, “O mundo é assim”, de Alvaiade, gravado por Marisa Monte no CD “Tudo azul”, e “Meu primeiro amor”, dos estacianos Bide e Marçal. Cristina também não deixa de cantar a música que ajudou a imortalizar em sua voz, “Quantas lágrimas”, de Manacéia. Mas o grande barato do disco está no registro de inéditas ou quase inéditas como a ótima “Conselho da mamãe”, outra de Manacéia, “Eu não sou do morro”, de Chico Santana, e “Inspiração”, de Candeia.
E Cristina já se dizia aposentada... (J. P.)
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