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segunda-feira, 23 de março de 2015

Marçalzinho (Linhagem)


Marçalzinho e Moacyr Luz

GRIFE DA PERCUSSÃO BRASILEIRA (O Globo - 06/02/2007) 

Marçalzinho, juntamente com Moacyr Luz, reverencia pai e avô no CD ‘Sem compromisso’


Sem compromisso Moacyr Luz e Armando Marçal

Armando Marçal é herdeiro direto da mais importante linhagem de percussionistas do samba. Seu avô, também Armando, foi um dos precursores do gênero, formando com Bide (Alcebíades Barcelos), uma dupla inventiva, pioneira, responsável por clássicos como “Agora é cinza” e “A primeira vez”. Seu pai, Nilton, virou Mestre Marçal por comandar por mais de 20 anos a bateria da Portela e por ser um excelente cantor de sambas. Agora, Marçalzinho, que já acompanhou Pat Metheny, James Taylor, Caetano Veloso e também comandou os ritmistas da Portela, homenageia, juntamente com Moacyr Luz, o pai e o avô no belo CD “Sem compromisso” (Deckdisc).

Mais do que cantar sambas de Bide e Marçal, ou clássicos eternizados por Mestre Marçal, como a faixa-título, de Geraldo Pereira, a dupla ressalta — graças ao raro encontro entre violão, voz e percussão — a elegância, a sofisticação e a simplicidade do gênero. Marçalzinho e Moacyr Luz optaram pelo ambiente como conceito. E isso é possível reparar desde a primeira faixa, “A primeira vez”, gravada por Orlando Silva, em 1939. Acompanhado por uma percussão leve e por seu violão denso, Luz está mais contido, como se estivesse saboreando cada palavra, dividindo a música em um divertido diálogo com a síncope. É esse o clima do disco, mesmo quando Marçalzinho lança mão de uma percussão mais pesada. E nesse conceito a regravação de “Contentamento”, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro é um achado.


 Duas regravações de Luz merecem também destaque especial. “Rainha negra”, de seu disco “Vitória da ilusão”, de 1995, faz parte de uma série de sambas-homenagens, com Aldir Blanc, para personagens do samba, neste caso, Clementina de Jesus: “Saúdo os deuses negros/ Da serra-mar, céu de Quelé/ Para o povo brasileiro/ Rainha Negra da voz/ mãe de todos nós”. Já “Mandingueiro”, também com Blanc e nome do seu disco de 1998, ganha roupagem estilizada. Parceiro mais recente de Luz, Hermínio Bello de Carvalho empresta seus versos para “Quem mandou”: “Quase às tontas, que nem foragido/ que escapasse de uma prisão/ Meu coração bandoleiro, ele age/ feito um carro na contramão.



Dupla regrava clássicos esquecidos de Bide e Marçal

Mas o disco também tem o mérito de trazer à tona sambas injustamente esquecidos de Bide e Marçal. Dois deles, apesar de conhecidos pelos aficionados do gênero, são pouco lembrados. “Barão das cabrochas”, um delicioso samba-auto-exaltação, e “Não diga a minha residência”. São dois clássicos da dupla e representativos do formato estilizado da turma do Estácio. 

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