MADUREIRA SONHA COM A PORTELA (O DIA 04/10/06)
Coluna Carnaval pelo DIA relembra o desfile de 95 da Portela. Escola apresentou o enredo Gosto que me enrosco, de autoria do carnavalesco José Félix, e terminou na segunda colocação.
Cláudio Vieira e Luiz Eduardo Rezende (26 de fevereiro de 1995)
Foi covardia. Se a abertura dos envelopes fosse hoje, a Portela chegaria muitos pontos à frente da segunda colocada. O desfile da Águia foi um dos mais perfeitos dos últimos tempos e a escola que quiser ser a campeã de 95 terá que fazer um desfile espetacular, de ver a platéia delirar.
O espetáculo foi fraco. O Salgueiro não repetiu a apresentação dos últimos anos e cometeu muitos erros. A comissão de frente chegou atrasada e teve que trocar de roupa na Passarela. Os carros estavam mal acabados, o samba não funcionou e as fantasias eram pesadas para o tipo de desfile leve e solto da escola tijucana. Mesmo assim foi a que se apresentou melhor, depois da Portela.
A Beija-Flor, que se preparou para homenagear Bidu Sayão, frustou quem estava esperando uma apresentação deslumbrante. Foi repetição durante 80 minutos. Correu do início ao fim. União da Ilha e Tradição, que ficaram entre as seis primeiras do ano passado e alimentavam o sonho do primeiro título, vão continuar esperando. A Ilha, sempre vibrante e comunicativa, foi apática. A Tradição, que apresentou um fenomenal festival de rodas, não conseguiria uma boa colocação no Grupo de Acesso.
Pior que a Tradição só a Grande Rio, que fez a sua pior exibição no Grupo Especial. Um pouquinho melhor foi a São Clemente, que fez a platéia rir com Roberto Baggio chutando pênaltis para fora, na comissão de frente.
O Império Serrano foi salvo pelo bom samba, que garantiu a evolução e harmonia. As alegorias e fantasias, no entanto, deixaram a desejar.
A grata surpresa foi a Unidos da Tijuca que, apesar de ter dois carros quebrados, mostrou que o desfile sem galeras e grupos de fados pode levar a escola a conquistar posições bem melhores.
O grande destaque do primeiro dia foi mesmo a Portela que, confirmando toda a expectativa, fez uma belíssima apresentação, como nos bons tempos dos 21 campeonatos. Não apresentou um defeito sequer e foi a única que levantou a galera dos camarotes, das arquibancadas e do Viaduto São Sebastião. Madureira está com jeito de chorar de novo. Mas, de alegria.
A volta de Paulinho da Viola e Cia.
O carnavalesco José Félix idealizou para a Portela o enredo Gosto que me Enrosco, a história do carnaval entre os séculos 17 e 18, com toques de períodos mais recentes como os desfiles das sociedades, ranchos, frevos, blocos e os grandes do Municipal e seus concursos de fantasias. São personagens tradicionais dos festejos que vão desfilar na escola. À frente, a águia - símbolo portelense - entrará na Avenida caracterizada, com guizos no bico e chapéu de pierrô.
Félix explicou que o enredo vai falar da história do carnaval "desde as apresentações dos entrudos, festa que herdamos de Portugal até o maxixe, a polca e os dançarinos de charlestons e a chegada do choro, das marchinhas e a popularização do samba". Zé Pereiras, clóvis, melindrosas, pierrôs, colombinas são figuras que estarão presentes em todo desfile enfeitados de lantejoulas e confetes.
O carnavalesco afirmou que o enredo, embora já tenha sido apresentado vai ser visto este ano com roupagem inédita. Para Félix, o tema tem muito a ver com o clima interno dos sambistas da escola. "Em todos os setores a empolgação é notada pela volta das figuras importantes da agremiação. E, o resgate cultural do enredo é semelhante a isto", garantiu referindo-se a volta de antigos sambistas à Portela como é o caso de Paulinho da Viola, que esteve 20 anos afastado, Zé Ketti, Valdir 59, Manacéa, Tijolo e Nega Pelé.
No último carro, a confraternização de sambistas simbolizada pela participação de Dona Neuma e dona Zica, da Mangueira ao lado da velha guarda da Portela.
Paulinho da Viola arrepia na volta
Em sua volta à Portela depois de 18 anos, Paulinho da Viola saiu de sapatão. Por conta de uma topada na bicicleta ergométrica que tem em sua casa na Barra, ele quebrou o dedinho do pé direito.
Fez bonito com o samba-enredo que Noca da Portela, Nelson e Colombo aprontaram para este ano. "Este samba do Noca, como um ritmo de samba mesmo, foi um dos responsáveis por eu ter voltado", elogiou Paulinho, antes de tascar um beijo na testa do compositor, ao fim do desfile.
Parecia até que o enredo era sobre Paulinho. A escola inteira quis lhe mostrar seu carinho na concentração. No fim, ele confessou: "Chorei escondido", disse Paulinho.