DORA, Rainha da PORTELA (Nov/2009)
Dodô estava linda; linda e serena. Tudo parecia um sonho. Tão menina ainda... nunca vivenciara nada parecido com o que estava acontecendo ali naquele momento. Tanta gente dirigindo para ela seus olhares, a escola toda parecia girar em torno de si.
E aquele samba lindo:
Como é linda
Nossa Guanabara
Jóia rara
Que beleza.
Cada sorriso incentivador, vindo ora de Paulo, ora de Dora, parecia dar-lhe asas para rodar, rodar, rodar... drapejar aquela bandeira, aquele azul imenso. As mãos de seu mestre-sala pareciam enormes e seguras, como as garras da águia que passaria a estar presente por toda sua vida. Nunca mais deixaria de desfilar pela Portela, participando de todos os carnavais seguintes, participando de todos, isto mesmo, todos os vinte e um campeonatos que a escola conquistaria a partir daquele primeiro título de 1935.
Dora ficaria noiva do filho de Seu Hermógenes, o primeiro patrono da história das escolas de samba. Uma história de amor interrompida com a morte do jovem Benjamin que saia na gambiarra junto com Nozinho. Recuperada do trauma reconstituiu sua vida permanecendo na escola durante todo o tempo em que esteve solteira. Depois constituiu sua família e fez da Portela sua melhor lembrança, seu maior orgulho.
Com movimentos limitados em razão de uma queda, acompanha até hoje os desfiles de sua escola pela TV. Ao ser reencontrada agora pode rever sua grande amiga Dodô em um festival de lembranças, risos e muita alegria.
Mesmo com a memória lhe pregando peças, ao me ouvir cantar os primeiros versos do samba "Ando Penando", da então "Vai Como Pode" de 1932, emendou direto cantando até o fim. E assim foi com os outros sambas daquele ano e mais 1934 e 1935. Era só começar que ela mandava.
Dodô e Dora se encontrarão novamente no início do ano quando as duas aniversariam, Dora dois anos mais velha. Dodô estará completando noventa anos, setenta e seis dos quais desfilando pela Portela.
Duas meninas. Duas vidas que a vida juntou um dia tanto quanto as separou depois para agora unir de novamente.
Vidas transformadas em contos que os Portelenses contarão sempre, para seus filhos e para seus netos.
Vidas vividas em glórias, transpassadas para o tal livro de nossa história e que o tempo um dia acabará por transformar em lendas.
Lendas da Portela...
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