EM NOVO CD, ZECA PAGODINHO DIZ QUE MÚSICA TEM QUE PASSAR MENSAGEM (JB – 25/09/08)
Notoriamente avesso às questões políticas, até em época de eleições municipais, Zeca Pagodinho não deixou o assunto de fora de seu 19º CD, Uma prova de amor (Universal). A seu modo, o cantor aborda as mazelas sociais (e institucionais) brasileiras na música Eta povo pra lutar, de Brasil, Badá, Magaça e Bernine.
– Não é uma obrigação, mas a gente tem a responsabilidade de passar uma mensagem. Não consigo ver criança passando fome, família morando na rua – diz o sambista. – Eu vou lá, dou um alô, uma ajuda, um brinquedo. Tem que fazer alguma coisa, já que quem tem que fazer não faz.
No álbum, Pagodinho, tradicionalmente um grande lançador de sambistas, insere um novo compositor (Fred Camacho, que divide Pra ninguém mais chorar com Almir Guineto e Dudu Nobre). Mas não deixa de lado antigos colaboradores, como Monarco, Mauro Diniz (autores de Não há mais jeito), Nelson Rufino, Toninho Geraes (compositores da faixa-título, primeiro single do disco), além do próprio Guineto.
O disco recupera também sambas antigos da Portela como Falsas juras (Candeia e Casquinha), Pecadora (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e Manhã brasileira (Manacéia), gravados com a participação do coral da velha guarda da escola. E um tema de Jamelão ( Esta melodia,) que morreu em 14 de junho, em parceria com Babu.
– Conheço esse samba desde criança. Sempre quis gravá-lo, mas esquecia. Queria muito que o Jamelão tivesse ouvido minha gravação. Ele morreu uma semana depois de eu ter decidido colocar a música no CD. Espero que ele esteja gostando, lá nas alturas – reverencia.
Produtor do sambista há 14 anos, Rildo Hora destaca que ele e Pagodinho aprenderam bastante com o último CD do cantor, Acústico MTV 2 – Gafieira (2006).
– Mantivemos até o quinteto de saxofones do álbum. Ficou um som bem anos 50 – diz o produtor, que tece comparações até com o Buena Vista Social Club, que trouxe de volta o som de antigos compositores cubanos. – Assim como acontece com eles, é o tipo de som que acaba parecendo novo porque, mesmo sendo bem antigo, não era mais feito em larga escala. Quem ouvir o disco com calma vai perceber isso e vai adorar.
Presente de Jorge
O álbum também abre espaço a Jorge Benjor, fazendo uma oração a São Jorge em Ogum, e João Donato, que participa, em voz e piano, da releitura de Sambou... sambou, de sua autoria com João Mello.
– O Jorge foi uma ideia do (produtor) Max Pierre, que trabalhou comigo no disco. Foi um presente. Já o conhecia pessoalmente, mas nunca tinha parado para falar com ele direito. Já Donato foi uma coincidência. Ele estava gravando essa música no estúdio ao lado do meu e me convidou: “Não quer cantar aí, não?”. E a música vai sair no disco dele também – diz o cantor, que comparece só com duas músicas de sua autoria no álbum, em parceria com Arlindo Cruz, Se eu pedir pra você cantar e Sempre atrapalhado. – Já quis fazer um disco só com meus sambas, mas acabo deixando para lá porque muita gente manda música. Mas tenho um monte guardado.
O recente sucesso solo do amigo Arlindo, por sinal, faz com que Pagodinho se anime mais ainda. Cruz, que está nas rádios com Madureira, frequenta a lista de compositores dos discos do sambista desde o começo das carreiras de ambos.
– Rapaz, você não sabe o quanto eu lutei por isso. Fico muito contente de ver o sucesso dele, do Dudu Nobre. Sem falar no Almir Guineto, que também está sempre nos meus discos – diz Pagodinho, que, apesar da fama, não deixou de ir aonde o samba está. – Conheço muito bem a linguagem do povo, por isso ando tranqüilamente pelo mundo. Vou à Lapa, freqüento minhas comunidades. E vejo sempre muita gente nova, além de gente que já é antiga para mim, mas que pode ser nova para o público.
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