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domingo, 19 de fevereiro de 2017

Paulinho da Viola (Entrevista)

ENTREVISTA: A PORÇÃO VERDE-E-ROSA DE PAULINHO DA VIOLA (O DIA – 29/04/08)
 
A música – uma das mais belas homenagens a uma escola de samba –, defendida por Elza Soares no 4º Festival de Música Brasileira da TV Record, em São Paulo, deixou-o com peso na consciência. Sentindo-se em dívida com a Portela, compôs seu maior sucesso: “Foi um rio que passou em minha vida”, declaração de amor à escola de coração.

Como você compôs "Sei lá, Mangueira"?

Paulinho da Viola – Fui à casa do poeta e parceiro Hermínio Bello de Carvalho, no Catete. Chegando lá, a primeira coisa que ele me disse era que estava preparando um musical que iria se chamar “Fala, Mangueira”, e me mostrou umas quatro ou cinco letras, mas não me deu nenhuma para musicar. Também não queria me envolver na produção do musical, porque o Hermínio tinha um parceiro, Maurício Tapajós, com quem havia composto outros trabalhos desse tipo, como o musical “João, amor e Maria”, e pensei que eles fossem fazer juntos o “Fala Mangueira”. Quando comecei a ler a terceira letra, a música me veio instintivamente. Então disse para o Hermínio: “Essa aqui já tem música”. Ele me deu o violão e um microfone de pé para gravá-la. No total, isso tudo não durou mais do que quinze minutos. O musical acabou não acontecendo, transformou-se num LP, mas o Hermínio inscreveu a música num festival da TV Record em São Paulo.

É verdade que você torceu contra a música no Festival?

Paulinho da Viola – Não torci contra, mas quando soube que o Hermínio tinha inscrito a música no festival, e que a música tinha sido classificada, eu entrei em pânico. Ele até ficou um pouco sentido comigo, esperava que eu dissesse “Que maravilha!”, mas eu lhe disse: “Hermínio, você não está entendendo! Eu sou presidente da ala de compositores da Portela. Como vou aparecer num festival com um samba de exaltação à Mangueira?” Tentei tirar a música do festival, mas me disseram que isso causaria muitos problemas, pois já tinha sido selecionada. Fiquei muito chateado. Não acompanhei o festival. Soube depois que a música fora defendida pela Elza Soares, que depois de receber muitas vaias do público – vaiava-se tudo em festivais – enrolou-se na bandeira do Brasil.

Você sofreu algum tipo de represália dos portelenses por causa do sucesso da música?

Paulinho da Viola – Não. Até o Natal, que dava bronca em compositores que faziam música para outra escola, não disse absolutamente nada, pelo menos para mim. A música fez sucesso, mas não a ponto de criar uma celeuma com a Portela. Mas eu fiquei com uma dívida com a Portela.

Como era a relação entre Mangueira e Portela? Havia muita rivalidade?

Paulinho da Viola – A rivalidade é só no dia do desfile. No meu tempo e mesmo antes, a relação entre mangueirenses e portelenses sempre foi de muita cordialidade. Sempre visitei o morro de Mangueira com Zé Ketti, visitava o Tingüinha, o Pelado, aquela turma toda. E o pessoal da Mangueira também visitava a Portela. A ligação era muito forte.

Você se sentiu na obrigação compor "Foi um rio que passou em minha vida?" 

Paulinho da Viola – Não é uma resposta. É algo que eu buscava de alguma maneira desde que compus “Sei lá, Mangueira.” Volta e meia eu pensava “Pôxa, tenho de fazer um samba para a Portela”. Um dia, passei numa livraria na Rua México e vi um livro com o título “Por onde andou meu coração”, de Maria Helena Cardoso. Não comprei o livro, nem entrei na livraria, mas fiquei com o título na cabeça, como se algo me dissesse: “olha aí, cara.” Foi daí que saiu “Se um dia/Meu coração for consultado/Para saber se andou errado/Será difícil negar”. A idéia era essa, mostrar por onde andou meu coração, que na verdade nunca esteve na Mangueira (risos)

Para terminar: "Sei lá, Mangueira" ou "Foi um rio que passou em minha vida"?Qual é a mais bonita?

Paulinho da Viola – “Foi um Rio que passou em minha vida”. (risos)

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