PORTELA

CARNAVAL, SUCESSO NOS MELHORES PALCOS DO RIO (O Globo - 19/02/06)

 

Escolas de samba e seus convidados ocupam cada vez mais espaço nas agendas de casas de espetáculo durante todo o ano.

 

A batida do surdo fazia tremer a alma. Os baluartes estavam a postos, impecáveis. O repique do tamborim se encaixava incrivelmente na cadência ensurdecedora da bateria. Mestre-sala e porta bandeira flutuavam, lindos de chorar, e as passistas sambavam endiabradas. Delírio e gritos de “é campeã!” Tinha tudo para arrebatar o Setor 11.

 

- Com os olhos da águia/Eu vejo a nossa inspiração/Raiando o dia num azul de emoção, lálálá... — cantava Babi Coroa, de 30 anos. — Isso aqui está maravilhoso! Demais! — exultava a advogada, acompanhada da amiga Ana Carolina Diniz, de 27, que era só interjeições, entre uma estrofe e outra do samba-enredo da Portela, na chuvosa terça-feira da semana passada.

 

Parecia carnaval, mas era a azul-e-branco abrindo alas num grande espetáculo no Morro da Urca, lotado, apesar do mau tempo. Longe de suas quadras, muitas no subúrbio ou na Baixada Fluminense, as escolas de samba invadiram definitivamente o show business — e que business! Os espetáculos custam em média de R$10 mil a R$15 mil.

 

Lugar na mesa para assistir à Portela chegou a R$450.

 

Um público muito peculiar que vibra a uma simples menção a Candeia — célebre compositor, Antônio Candeia Filho, sinônimo de samba de raiz. E que chega a pagar R$450 — preço do ingresso mais caro no Morro da Urca — por um lugar na fila do gargarejo. O ingresso mais barato custava R$90.

 

- O conforto de uma boa casa de show é irresistível, principalmente com esta vista deslumbrante — disse o promotor de eventos Araquem Azeredo, de 60 anos, que foi ao Morro da Urca, com uma entourage de 15 amigos, com os quais tem ido aos mais concorridos espetáculos da temporada.

 

Americanos de Kentucky, Bo Pilling, de 23 anos, Tommy Barniett, de 33, e Doug Parker, de 37, faziam coro.

 

- Se fosse na quadra, não teríamos vindo. Por causa do medo de assaltos, nossos passeios se limitam ao calçadão de Copacabana — admitiu Bo.

 

A Portela encheu o palco com uma plêiade imbatível, de Paulinho da Viola a Marisa Monte. Não faltou a prata da casa, Noca da Portela, Tia Surica, a Velha Guarda em peso. Tudo de bom.