A tão esperada águia portelense ainda na fase de
acabamento
‘NÃO DEVO NADA A NINGUÉM’ (Jornal Extra - 13/02/06)
Um
ano depois, Nilo Figueiredo volta a entrar em confronto com a Velha Guarda da
Portela.
Ele saiu do último carnaval como o grande vilão da festa, por ter decidido que
a Velha Guarda não entraria na Avenida. Um ano depois, Nilo Figueiredo,
presidente da Portela, continua polêmico. Mandou tirar a frase que exaltava a
Velha Guarda na quadra e entrou em confronto com eles ao retomar a
administração da feijoada da escola.
Nilo diz que hoje é aplaudido pela decisão que tomou no ano passado e afirma
que seu coração ficou apertado porque as 42 crianças do carro não desfilaram, e
não por causa da Velha Guarda. Nesta entrevista, Nilo fala ainda dos projetos
sociais da Portela e de seu jeito firme de comandar a escola. E ainda promete
um grande carnaval aos portelenses sedentos por vitórias.
Como está a preparação da Portela,
faltando duas semanas para o carnaval?
Todas as escolas estão com um problema: dinheiro. Mangueira e Imperatriz
tiveram problemas com patrocínio. Mas a Mangueira ainda tem um ensaio
concorrido. Eles cobram um ingresso caro e lota. Lá, tem a menininha bonita, os
caras vão atrás. É a escola da moda.
E como fazer a Portela virar moda? A
escola tem nome, tradição e é a maior campeã do carnaval. O que falta?
Falta ir para a mídia. Há quanto tempo não se ouvia falar da Portela? Só se passou a falar no dia em que o Lula foi lá. Ali, a Portela voltou à mídia.
Mas para isso a escola tem que ter bons resultados, o que não aconteceu em 2005?
No ano passado, enquanto todo mundo fazia carnaval, eu fazia estrutura. Troquei chassis, motores, gastei uma grana. Eu cheguei à escola e estava tudo fechado com a ONU, sem contrapartida e com um enredo difícil de desenvolver.
E aconteceu aquele problema com a Velha Guarda?
No último carro, fomos homenagear a Portela, com 42 crianças vestidas de anjinhos e a Velha Guarda. Mas o motor deu problema e só um guindaste levantaria aquele carro. Restavam 12 minutos e eu mandei fechar o portão. Hoje, sou aplaudido, porque a Portela poderia ser rebaixada. Mas houve uma comoção porque a Velha Guarda não entrou. Será que ninguém viu que tinha 42 crianças, que também não desfilaram? Elas estavam chorando! Ali meu coração ficou machucado. Elas iam desfilar pela primeira vez, aqueles velhos estão cansados de desfilar. Este ano, eles vêm no abre-alas, mas não é para me redimir. Não devo nada a ninguém, não tenho que pedir desculpas.
Mas esse não foi o único problema: a Águia veio sem asas e a escola entrou triste na Avenida.
Não é verdade. Basta ver os comentários da TV, eles diziam que a Portela estava dando uma aula de desfile. Mas aí fizeram aquela onda toda com o último carro, que influenciou a nota dos jurados, que ficam vendo televisão na cabine.
Você cogita a possibilidade de a Portela ser rebaixada?
Você está brincando? Eu estou fazendo um carnaval com fantasias de qualidade, um samba ótimo, bateria elogiada, puxador muito bom, alegorias modernas, comissão de frente que vai surpreender. Se eu cair, eu vou embora, porque vai ser sacanagem com a Portela.
Você costuma apostar em novos nomes, como o puxador, Gilsinho, e o mestre-sala, Diego.
É verdade. Hoje se fala muito no Bruno Ribas (puxador), mas ele era o terceiro da Beija-Flor e eu o trouxe para a Portela. Este ano parti para outro menino novo, o Gilsinho, que é o melhor cantor do Especial, páreo para o Neguinho da Beija-Flor. Uma das minhas promessas quando assumi foi valorizar os jovens, formar lideranças. Tenho 120 baianinhas, ala de crianças, concurso de samba de terreiro para formar compositores. Essa é minha meta. Além disso, a escola de samba tem função social. Nossa região é totalmente desassistida e temos que fazer alguma coisa para salvar a juventude. Por isso fizemos uma parceria com a Gama Filho e vamos oferecer atendimento médico-odontológico na quadra. E vamos ter também cursos profissionalizantes.
Muita gente na escola reclama do seu jeito rigoroso e centralizador à frente da Portela.
A Portela ficou indisciplinada ao longo do tempo. Não tinha comando, cada área tinha seu dono, eram feudos. Então o poder não pode sair da minha mão, porque quando explode alguma coisa, vem em cima de mim.
Hoje você sente o portelense com o orgulho ferido? O que ele pode esperar deste carnaval?
O portelense está acreditando. Quem viu o barracão ficou satisfeito, as roupas estão lindas, nós queremos reviver a tradição da Portela. Ganha carnaval hoje quem erra menos, e nós estamos identificando os problemas para não errar na Avenida.
Qual foi o problema com a Velha Guarda na administração da feijoada da escola?
A administração era minha e passei para eles, mas os alertei de que não poderia haver problemas. Mas a feijoada começou a acabar cedo, muita gente reclamou, o rendimento diminuiu. Eu chamei o Monarco, que é a liderança, e disse que ia pegar de novo a feijoada. Ele concordou e voltou tudo ao normal, o faturamento deles aumentou de novo. Aí disseram que tomei a feijoada da Velha Guarda. Nunca foi deles! Eu entreguei, eles dirigiram 4 ou 5 vezes e fizeram m...
E a inscrição “Aqui deu frutos a semente que a Velha Guarda plantou”, que estava na quadra? Ela foi pintada?
A Velha Guarda plantou que semente? Aquela Velha Guarda que está lá? Quem plantou a semente foi Paulo da Portela, Antônio Caetano, Antônio Rufino (fundadores), Natal... Eu vou botar outra frase lá, do Candeia: “Portela é perfume da flor e aroma no ar; pra sentir, só basta saber respirar”. Não estou falando de Velha Guarda nem de Nova Guarda. Ninguém é superior à história da Portela.