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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Walter Alfaiate

Walter Alfaiate grava disco sobre a obra irretocável do parceiro Mauro Duarte (02/05/2005)

Walter Alfaiate gravou seu primeiro disco em 1998, dois anos antes de chegar aos 70. Na época, disse que não achava mais que um dia pudesse ter essa chance e que se sentia com fôlego de criança para outros tantos CDs.

Gravou o festejado “Sambas na medida”, no início de 2003, relembrando alguns compositores de Botafogo, reduto onde foi criado em uma época que os blocos de rua tinham papel importante na vida dos bairros, assim como já foram um dia as escolas de samba. Quando achava que a vida já tinha lhe reservado surpresas suficientes, ele foi convidado a realizar um dos projetos mais sonhados de sua vida: fazer um tributo ao parceiro de vida, música e arquibancada, do Foliões de Botafogo e do Glorioso alvinegro, Mauro Duarte, também conhecido como Bolacha.

O disco, previsto para ser lançado em junho pelo selo paulista CPC-Umes, tem a direção musical do violonista Ruy Quaresma, também responsável pelo trabalho anterior de Walter Alfaiate:

- Eu sempre falei muito com o Ruy sobre o Mauro, uma pessoa por quem sempre tive muita admiração. Um dia ele perguntou por que eu não fazia um disco. Estou muito feliz por poder prestar esta homenagem e por estar novamente perto do meu parceiro querido — conta Walter Alfaiate, que chorou ao gravar “Nossos esforços”, de Duarte e Paulo César Pinheiro. — Tenho certeza que ele fez esta música pensando em mim.

Exceto pela faixa “Falsa euforia”, já gravada pelo grupo Família Roitman, o disco é todo de inéditas. Seis são parcerias com Alfaiate, sendo que uma delas, o samba-enredo “Fonte dos amores”, conta ainda com Wilson Moreira. É um samba à moda antiga, feito numa época em que a cadência das escolas já corria contra o relógio :

- Foi a única vez que eu disputei um samba na PORTELA. A melodia do Wilson Moreira é primorosa. Ficamos entre os dez. O samba que ganhou era um que dizia “Briga, eu quero briga” — conta Alfaiate, que foi levado para a Portela pelo amigo.

O samba “Arroz e feijão” é um bom exemplo do casamento dos dois, do humor de Alfaiate e da melodia precisa de Duarte: “Você já viu o preço do arroz?/ Você já viu o preço do feijão?/ Vai fazendo as contas/ E vê quanto deve custar um pedaço do meu coração”.

Para fechar o repertório do tributo, Alfaiate e Ruy Quaresma contaram com a colaboração de duas pessoas fundamentais na vida de Mauro Duarte: Paulo César Pinheiro e Cristina Buarque.

Cristina Buarque e Paulo César Pinheiro encontraram pérolas do fundo do baú.

Pinheiro, parceiro em dezenas de sucessos como “Menino Deus”, “Canto das três raças”, “Portela na avenida”, gravados por Clara Nunes, “A paixão e a jura”, “Artifício” e “Nunca mais”, por Roberto Ribeiro, abriu o seu baú para tirar “Lenha na fogueira”, “Nossos esforços” e “Vila”:

- Eu me tornei parceiro do Mauro sem conhecê-lo. O Maurício Tapajós apareceu um dia, no fim dos anos 60, com uma melodia. Fiz a letra, e o samba “Sapato mole” foi gravado imediatamente pelo Quarteto em Cy. Quando peguei o disco, vi um tal Mauro Duarte na parceria — conta Pinheiro. — Nós nos conhecemos pouco depois na casa do Maurício e viramos parceiros de copo e de música. Depois da primeira, “Menino Deus”, que estourou nacionalmente, não paramos mais.

Cristina, companhia inseparável do sambista, com quem dividiu um LP, em 1985, encontrou dois sambas: “Vem ver, João” e “Jeito do cachimbo”:

- O primeiro time, para mim, é grande. Noel Rosa, Geraldo Pereira e outros. Mas tem gente que as pessoas não conhecem e que está nesse time. Ele foi um tremendo compositor, cantava bonito, mas morreu cedo. Hoje dão mais valor ao sambista. Com certeza estaria gravando.

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