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sábado, 2 de junho de 2018

Walter Alfaiate

COM WALTER ALFAIATE (O Globo - 03/2009) 


Em geral associam você à elegância e à malandragem. Você se considera malandro? 

WALTER ALFAIATE: Me considero. Confundem malandro com pilantra, vigarista, vagabundo. Mas malandro trabalha, gosta de brincar, de sambar, de namorar. Malandro anda de cabeça em pé, chega bem chegado, todo mundo aplaude. Nunca gastei gasolina de camburão nem folha do Estado para bater processo (ou seja, nunca foi preso). 

Como vai sua alfaiataria? Você gosta de ser chamado de alfaiate, costureiro, estilista ou personal stylist? 

-  Per... o quê? Soa sonoro, mas nunca ouvi falar. Não quero esse negócio de coisa em inglês e francês. Negativo. Chama de alfaiate que está tudo bem. Não sou estilista, que só desenha, nem costureiro, que costura muito para mulher. Aliás, vejo cada roupa esquisita nos desfiles que vou te contar. Mas minha profissão está em extinção. Os da antiga estão morrendo, e ninguém mais aprende o ofício. O chinês chegou aqui para bagunçar a gente. Ele vende pastel, caldo de cana e roupa barata que não vale nada. E hoje o sujeito vai de calça jeans a casamento e formatura. Os fregueses sumiram todos. Não entra gente nem para fazer bainha. 

Como surgiu o apelido Walter Alfaiate? 

-  Nasci Walter Nunes Abreu. Virei Walter Sambista porque só trabalhava cantando. Depois passei a Walter Sacode (por causa do sucesso de “Sacode carola”). E aí Sérgio Cabral me batizou de Walter Alfaiate (dizia que era mais popular). Deu certo. 

Como será seu carnaval? 

-  Além do desfile na Portela, vou a Maricá defender uma grana. Eu, Monarco, Wilson Moreira e Nelson Sargento vamos fazer shows. Tem gente que me confunde com o Nelson, não sei por quê. Não pareço nada. Assim como me chamam de Walter Sargento, devem chamá-lo de Nelson Alfaiate. Ele que não fique zangado, mas sou mais bonitinho. (Risos.) Também vou aos blocos. Quando garoto, criei muitos, como o Bloco da Bacia. Tinham jogado fora uma bacia, peguei-a de brincadeira e fui para a frente do bloco. Começaram a botar dinheiro. A gente gastava em cachaça e cerveja. Antes, no carnaval de rua, o cara saía fantasiado de mulher, e a mulher de homem. Hoje não precisa, porque já andam vestidos assim o ano todo. Após o carnaval, entro em estúdio para gravar meu quarto CD. É um apanhado de sambas da antiga, tipo Ciro Monteiro, junto com meu lado crooner, de canções de dor-de-cotovelo. 

Quando você era crooner de boate, nos anos 50, foi convidado para o rádio, mas “tremeu”. Arrepende-se?

-  Não. Tinha 23 anos, sei lá o que seria de mim hoje se estourasse na época. Se tivesse explodido ali, podia ser que, com 68 anos (quando lançou seu primeiro disco), dissessem: “Já tá velho.” Como comecei tarde, hoje em dia me acham até broto. Por isso digo que me trato com pediatra. Ninguém diz que vou fazer 79 anos (dia 7 de junho). A voz está ótima. Em 2006 tive um edema, fiquei 28 dias internado. Sou hipertenso, mas me cuido. Afinal, o coração já é traiçoeiro de nascença. Além disso, ele se apaixona e depois fica chorando a traição das mulheres. E o meu parece que gosta de sofrer, minha vida amorosa é um desacerto danado (ele foi “amigado” quatro vezes e hoje “tá ficando”). Em 2008, tive pneumonia, mas já está legal. O samba me faz bem. Ele tem tudo: S de saúde, A de amor, M de mulher, B de bondade e A de amizade. 

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