Majestade do Samba
terça-feira, 31 de agosto de 2021
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
PORTELA 2011 (Sinopse)
PORTELA – SINOPSE 2011
Porto de Sapucahy , verão de 2011.
Soltem as amarras e deixem as velas enfunar ao sabor do vento. Vejam o cais se
distanciar e, com ele, as lembranças que ficaram. Na bagagem, trazemos sonhos e
esperança. Nossos olhos já não conseguem divisar o que é mar, o que é céu, e
tentam traçar uma linha de equilíbrio no horizonte. Singramos no azul!
Subamos à gávea para conversar com as estrelas, companheiras de saudades e
solidão. Ora, direis, ouvir estrelas. Por que não?
Estrelas são quase tudo o que temos. Além delas, trazemos instrumentos que nos
ajudarão a decifrá-las. Elas se espalham pelo céu formando desenhos e um deles
nos chama a atenção. É uma águia! Sim, uma águia em forma de constelação. E
será esta que escolheremos para nos guiar pela imensidão.
Dizem que o destino está traçado nas estrelas. Ensinam que precisaremos de
muita coragem para enfrentar os perigos e, sobretudo, determinação. E, com fé
em Deus, navegaremos pelos sete mares que abrirão os portais do coração.
No Reino de Poseidon, tempestade e bonança
Estamos a muitas braças do continente, nessa noite tenebrosa. A fúria do vento
força a resistência dos cabos que sustentam o mastro principal. O tecido das
velas parece que não conseguirá resistir. Ondas se agigantam, cobrindo o casco.
Raios, relâmpagos e trovões abrem fendas no firmamento.
Começamos a enfrentar o desafio do desconhecido. E, sem que tenhamos tempo de
raciocinar, nos deparamos com o medo escondido em nossos porões.
Das profundezas surgem criaturas fantásticas! São polvos, serpentes e dragões
abrindo uma estrada na espuma, levando-nos por um turbilhão sem fim.
Ao abrirmos os olhos, porém, tudo se transforma. Cavalos marinhos conduzidos
por guerreiros transportam o cortejo de reis e rainhas que governavam a crença
de civilizações que desapareceram no mar abissal.
O que tenta nos dizer a tempestade, afinal?
Respeitar o que é do mar, mas nunca temer. Acima de toda maldade, o bem sempre
há de vencer.
Mare Nostrum, sob a luz de Alexandria
Estas galés que cruzam o nosso caminho transportam toras de cedro, tapetes,
tecidos, cerâmicas, corantes, jóias, peças de metal e outros produtos que as
mãos do homem foram capazes de moldar.
Do Oriente partem gigantescas embarcações. São os chineses oferecendo novas
trocas, ampliando suas rotas, construindo relações.
São mercadorias que remontam aos tempos dos primeiros navegantes, que se
lançaram ao mar. Para trocá-las em outros portos, fenícios e egípcios não
imaginavam que também deixariam vestígios de sua cultura milenar.
Gregos e romanos inauguraram um tempo de conquistas, ampliando as frentes de
comércio e os limites de seus territórios.
Da distante Alexandria, brilha uma chama, transformando a noite em dia.
A caminho de Calicut
Debruçados sobre mapas, lendas e antigos relatos tentamos encontrar o caminho
que nos levará às misteriosas terras das especiarias. É para lá que apontam
nossos olhos, mergulhados em fascínio.
Para proteger este comércio, mercadores árabes semearam lendas de monstros e
gigantes que devoravam quem ousasse cruzar os seus domínios.
Tudo mentira. O pesadelo agora é um sonho. As águas ganham novos matizes e como
atrizes representam cada uma de nossas expectativas: cravo, canela, açafrão,
flor de lótus e também porcelanas, tapetes, sedas e joias que não se cansam de
brilhar.
As mais variadas fragrâncias se misturam no ar. Conseguimos, estamos em
Calicut! Mas não devemos nos demorar.
Atlântico, em direção ao Pacífico
O Velho Mundo despertou para um novo século sabendo que não estava mais só. Por
trás do horizonte, entre o nascente e o poente, existiam outras terras e
riquezas a se alcançar.
Eram terras primitivas, que ficavam muito além da calmaria e daqui podemos
vê-las. Ao dia, parece uma deslumbrante miragem, ocupada por nativos, adornadas
pelas praias e a plumagem dos pássaros mais bonitos que já se viu. Eis a visão
do paraiso tropical.
São tantas terras que nossos olhos se perdem ao tentar abraçá-las. Elas se
escondem sob florestas, percorrem montanhas e flutuam nas nuvens, onde guardam
segredos e mistérios de antigos impérios, que se curvavam diante do Sol.
Quantas riquezas brotam de suas nascentes! Ouro, prata, pedras preciosas e uma
madeira estranha, que tinge de sangue o tecido mais nobre. Dizem que o futuro a
perpetuará na força de um gigante chamado Brasil.
Mare Liberum, numa ilha do Caribe
Quantas estradas se abrem neste azul sem fim! O Atlântico é cortado em todas as
direções. Embarcações de diversas bandeiras transportam cana-de-açúcar, café,
tabaco e algodão.
Já não existem fronteiras para o comércio, nem medidas para a ambição. Outras
galés rumam para a África, inaugurando a rota do tráfico negreiro. Trazem
milhões de escravos, despejando-os em solo americano. Aceleram a produção,
deixando uma dor que não se apaga e uma chaga que ainda marca o sentimento
humano.
Negros vão, corsários vem. O mar já não pertence nem à Armada do Rei. Agora, é
terra de ninguém.
Brasil, entre riquezas e belezas
Abençoada natureza, que sempre encantará os olhos de quem veleja no aconchego
dessa Baía. A mesma brisa que traz lembranças do passado, sopra na direção do
futuro, ensinando que o mar foi, é e será a principal via de comunicação entre
os povos mais distantes.
Salve, Porto centenário, e esse intenso vai-e-vem do comércio exterior. Foi
aqui que começaram e depois se intensificaram nossas relações com o
estrangeiro.
Esse marulhar fustiga a todo instante, recordando investidas e o leva-e-traz .
As ondas não se cansam de contar todos os tesouros que ficaram para trás; mas
ainda guardam nas profundezas a mais preciosa das riquezas, que, por muito
tempo, nos impulsionará.
Rio de Janeiro, ponto de encontro de brasileiros de Norte a Sul, de Leste a
Oeste; que recebe de braços abertos o jangadeiro e outros irmãos do Nordeste.
Rio das praias, das raias, cruzeiros, pescadores da noite e da vida marinha.
Terra de São Sebastião, paraíso dos golfinhos.
Porto dos Amores, Fonte da Inspiração
Aqui da proa, quando olhamos para trás, não conseguimos dar conta do tempo que
passou. Orientados pelas estrelas, desafiamos tempestades, enfrentamos inimigos
e aprendemos que navegar é preciso - mas na mesma direção!
Foi assim que descobrimos novos continentes, inauguramos a rota do Oriente e
encontramos em pleno mar a Fonte da Inspiração.
Traduzimos os sentimentos em música, transportamos a emoção para a ópera e o
teatro, recriamos aventuras em romances, no cinema eternizamos sagas e amores
em paginas de clássicos memoráveis. Quando pintamos uma marina, tentando
retratar a fascinação que existe em tanto mar, deixamos o azul brincar na tela.
Descobrimos que o mar não é apenas um tema: ele tem início, meio e fim, é um
enredo. E toda essa experiência começou quando vencemos o medo, desfraldando as
velas no Carnaval.
Pois, o amor é azul.
O
céu é azul.
O
mar é azul.
E
entre eles, navega a nossa querida Portela!