MARISA MONTE LANÇA FILME SOBRE A VELHA GUARDA DA PORTELA (JB – 21/08/08)
Lula Buarque de Hollanda e Caroline Jabor
'Preciso aprender os
mistérios do mundo pra te ensinar',
diz a canção de Joyce e Maurício Maestro. Não se trata exatamente de um samba,
mas um fruto dele com certeza. É preciso aprender os mistérios do samba pra te ensinar, diz o "filme
da Marisa Monte", O Mistério do
Samba (Conspiração), que estréia nos cinemas no dia 29.
Desta vez, a artista brasileira mais original dos últimos tempos vem com um documentário em vez de um disco (ou dois, como foi seu mais recente lançamento). Marisa pegou um tema de seu interesse e paixão e realizou um sonho com muita propriedade: transformou a Velha Guarda da Portela em filme. Em 2000, a cantora e a Velha Guarda lançaram o CD Tudo Azul. O disco inspirou Marisa, que sacou que tinha que fazer um filme.
Não foi rápido viabilizar a produção de tal empreitada. O longa começou a ser rodado há dez anos, só que teve que ser interrompido diversas vezes por falta de verba. Ou filmado em brechas, quando dava. Ninguém podia parar suas atividades para se dedicar apenas ao projeto. Mas todos continuaram acreditando no sonho. Até que um dia...
- Estávamos com vários projetos paralelos, até que a Marisa teve um patrocínio para uma turnê. Aí propomos uma continuidade para fazer o filme, e rolou – conta Lula Buarque de Hollanda, que assina a direção com Carolina Jabor.
- A Natura veio para coroar o material – celebra o diretor.
O filme apresenta-se sem surpresas, além das esperadas (o que já é tudo!). Depoimentos, entrevistas, e muita música ao vivo, em rodas com participações ilustres – como Zeca Pagodinho - ou em duetos de Marisa Monte e Paulinho da Viola.
Mas Marisa não está na tela especificamente para cantar. Como que um Charles Gavin de saias, ela é uma pesquisadora, garimpeira e arqueóloga da música perdida. E tesouros inacreditáveis são revelados aos olhos das câmeras, como letras e gravações inéditas, quase esquecidas, verdadeiras pérolas.
É aquela conversa: erra quem acha que conhece e entende o samba só porque conhece os discos ou vai nessa ou naquela roda toda semana. Os closes nas rugas das estrelas do filme, logo no início, já vão dando as pistas do mistério que se revela ao longo do documentário. Afinal, como toda aquela gente tão simples consegue fazer tantas músicas geniais? E não param. A idade avançada não cessa a verve criativa.
Talvez o primeiro referencial que venha em mente ao desvendar o grupo de cantores, instrumentistas e compositores é o Buena Vista Social Club, que deu luz a muitos talentos esquecidos de Cuba. Algo como se o Win Wenders fosse o Lula e a Carol, o Ry Cooder fosse a Marisa Monte, Compay Segundo fosse o Monarco e Havana fosse Oswaldo Cruz. Musicalmente, os brasileiros não deixam nada a desejar aos cubanos – provavelmente os superam em genialidade.
- Tem um paralelo, é inevitável que haja uma comparação entre os dois filmes. É bom que tenha um filme desses em Cuba, um no Brasil, em todos os lugares. Que bom que existem pessoas que estão mantendo essa história, que está aí, viva – diz Carolina Jabor. – Mas na verdade, começamos antes do Buena Vista. Depois é que ficamos sabendo que o Win Wenders estava fazendo um filme parecido em Cuba – garante.
O Mistério do Samba lembra também o filme Meu tempo é hoje, sobre Paulinho da Viola ('Os filmes são primos', brinca Lula). De fato, existe ali um momento de interseção entre os dois. 'Sua inspiração é a mesma que me emocionou', assume Marisa Monte em certa conversa entre os dois. 'Pensei que o mundo seria melhor com esses sambas', revela o mistério.
O Mistério do Samba ao vivo
No dia do lançamento nos cinemas, 29 de agosto, o Circo Voador recebe o show do filme, com Marisa Monte e a Velha Guarda da Portela, além de participações especiais. Infelizmente, por incompatibilidade de agendas, os convidados que participaram do filme, Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola, não vão poder estar presentes. Monarco está doente e também não irá. Representando-os estarão os também portelenses Diogo Nogueira e Teresa Cristina. Antes do show, o telão vai exibir partes do filme, desta que é a mais pop das velhas guardas.