Vitória de compositores da nova geração do samba representa mudança de filosofia na azul e branco (O DIA – 14/10/06)
Surfista, jogador de futebol e sambista. Aparentemente, podem parecer atividades distintas e incompatíveis, mas no caso de Diogo Nogueira (foto), elas se complementam. Filho do cantor e compositor João Nogueira (morto em 2000), Diogo começou sua carreira musical seguindo os passos do pai. Hoje, quem ouve o filho pensa que está ouvindo o autor de clássicos como "Espelho", tamanha é a semelhança do timbre de voz.
Em seu 2º ano disputando samba-enredo na Portela, Diogo apostou na qualidade da obra para vencer. "Essa vitória é um grande feito para mim, inclusive porque meu pai não conseguiu o mesmo. Não precisei usar ninguém de fora para ganhar. Nosso samba era o melhor", exaltou. Ao analisar o nível da disputa, Diogo foi modesto: "Meus adversários são meus ídolos".
Muito assediado depois do resultado, o compositor chorou de alegria e dedicou a conquista ao pai: "Ele me iluminou". Junto ao povo, também muito emocionada, estava a mãe, Ângela Nogueira, líder do bloco fundado em 1980 pelo marido, o "Clube do Samba". "João deve estar igual a um neon, brilhando, brilhando e todo radiante. Deus tem um caminho para cada pessoa. Toda nossa família é sambista", disse.
Para Ângela, o que mais pesou nessa disputa foi a garra do filho. "O Diogo ficou dos 11 anos aos 22 decidindo entre o futebol e outras coisas. A música precisou correr atrás dele. No entanto, pelo fato de ter sido desportista, sempre carregou essa perseverânça com ele. O enredo tem tudo a ver com a trajetória dele", declarou. O Diogo aprendeu com os bambas desde pequeno. Acho que essa vitória não se trata de renovação, mas sim de uma continuação", completou.
Já o outro novato da parceria, não é tão marinheiro de primeira viagem assim. Cirano de Castro, o Ciraninho, é universitário, tem apenas 26 anos e já acumula vitórias significativas na carreira. Nascido e criado na Barra da Tijuca, o compositor foi campeão na escola do bairro em 2003 e no Bloco "Simpatia é Quase Amor", em 2006. Cirano, logo teve contato com o mundo do samba: "A primeira lembrança que eu tenho é numa festa de revellion. Eu tinha nove anos e o Alceu Maia (cavaquinista) me viu cantando "Madalena do Jucu" e disse: Esse menino vai ser sambista". Na adolescência, o jovem sambista iniciou seu contato com a União da Ilha onde disputa samba-enredo já há alguns anos. Seus ídolos maiores na arte do samba-enredo são Cartola e Candeia.
Segundo ele, o samba campeão na Portela levou quatro dias para ser feito e teve um custo entre 10 e 15 mil reais até a final. "Tudo começou na casa do Diogo, que pediu ao presidente Nilo para que eu pudesse entrar para a ala dos compositores", revelou. "É o momento mais feliz da minha vida. O samba fala por si só, tem alma e empolga demais o componente. Chorei de emoção quando vi a reação da torcida", acrescentou.
Ao conquistarem o direito de ter o samba que vai representar a Portela em 2007, o trio de compositores campeão emplaca pela 2ª vez uma obra este ano. Diogo Nogueira, Ciraninho e Celsinho de Andrade ficaram em segundo lugar no III Concurso Música Popular Brasileira do Sambola, que ocorreu em Agosto e celebrou os 30 anos da casa de shows homônima na Abolição, bairro da Zona Norte do Rio.